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sábado, 28 de agosto de 2010

Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes:
-Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estatua de espanto,
durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretíssimus.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Lu.
- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E
contou por quê.
- Mas que historia é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava
comigo no motel. Era você!
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimus! Toda a cidade ficou
sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? é o que todas as minhas
amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não
reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por
uma convenção?
- Vou!
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos
Alberto a interceptou. Estava sombrio.
- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.
- O que ele queria?
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha
que contar.
- O que?
-Você foi vista saindo do motel Discretíssimus ontem, com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha
própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lurdes, mas...
- O que?
- Vou ter que te dar um tiro .....

(Luiz Fernando Veríssimo)

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